Saltar para o conteúdo

Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/224

Wikisource, a biblioteca livre

E as serras, que em distintos horizontes
Murando vão pelos remotos lados
Mares e lagos, com que ao Sul marcados
Seus limites estão: a forma, o nome
Variam serra e rio, e sem que tome
Firmeza alguma o prolongado vulto,
Sempre o princípio te há de ser oculto,
Quando chegues ao fim do rio ou serra.
Levados do fervor que o peito encerra
Vês os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram do metal luzente
Co'as próprias mãos enriquecer o Erário.
Arzão é este, é este o temerário,
Que da Casca os sertões tentou primeiro.
Vê qual despreza o nobre aventureiro
Os laços e as traições, que lhe prepara
Do cruento Gentio a fome avara.

A exemplo de um contempla iguais a todos,
E distintos ao Rei por vários modos
Vê os Pires, Camargos e Pedrosos,
Alvarengas, Godóis, Cabrais, Cardosos,
Lemos, Toledos, Paes, Guerras, Furtados,
E os outros, que primeiro assinalados
Se fizeram no arrojo das conquistas,
Ó grandes sempre, ó imortais Paulistas!
Embora vós, Ninfas do Tejo, embora
Cante do Lusitano a voz sonora
Os claros feitos do seu grande Gama,
Dos meus Paulistas louvarei a fama.
Eles a fome e sede vão sofrendo,
Rotos e nus os corpos vêm trazendo;
Na enfermidade a cura lhes falece,
E a miséria por tudo se conhece.