Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/242

Wikisource, a biblioteca livre

Farei que, rota a máscara, a violência
Dentro dos nossos braços o acometa;
Que morra a frio sangue, ou que se meta
Às brenhas fugitivo, e busque a estrada
Que lembra de Fernando a retirada.

Assim falava a torpe Hipocrisia,
O Engano co'a Traição já se lhe unia;
Aprovava o Interesse a idéia insana,
A Rebeldia se gloriava ufana;
E por todos o alento suscitado,
Se alegram, crendo já executado
Tudo quanto entre as Fúrias se medita.
Vão buscando os Chefes; corre, e grita
A infame esquadra de uma e outra Fúria:
Pouco se afligem da passada injúria.
Cortam desde o seu templo os crespos ventos;
E ao hábito nocivo, aos pestilentos
Influxos, que derramam, se enche tudo
De serpentes, de feras, que de agudo
Veneno têm a fauce infeccionada.
Talvez não viste tu, Líbia abrasada,
De monstros mais coberta a tua areia,
Quando o Filho de Acrísio ali semeia
O sangue da cabeça que cortara
O ferro, de que a Deusa a mão lhe armara.
Mas já, Garcia amante, me convidas
A descrever as horas entretidas
Nos braços a que Eulina te trouxera.
Dentro da mansa e dilatosa esfera
Do peregrino Rio entrado havia
O Mancebo feliz, e já se via