Saltar para o conteúdo

Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/249

Wikisource, a biblioteca livre


Aqui chegava, e quase enfraquecido
Tinha o vigor da voz, quando advertido
De Eulina o arrebatado pensamento
Com que o grande Garcia olhava atento
Para as imagens que pendentes via;
Com que igualmente os olhos dirigia
Para o Mancebo que rasgara o peito;
Tomando a lira, e com suave efeito
Soar fazendo as cordas de ouro fino,
Em cadências de um número divino
De Itamonte lembrava a grande história;
Contava que empreendendo por mais glória
Os Deuses conquistar deste Hemisfério,
Deixando a Adamastor no vasto Império
Das ondas lá do Atlântico Oceano,
O pacífico mar buscara ufano;
Que de um raio de Júpiter ferido
Fora em duro penhasco convertido;
Que um filho concebera de uma penha,
Que foi Ninfa algum dia; ele se empenha
Em contrastar de Eulina o peito ingrato;
Apolo oposto ao amoroso trato
Lha rouba, e leva em uma nuvem; triste
O Mancebo infeliz, já não resiste
Ao rigor de seu Fado: busca ansioso
Sobre um punhal o termo lastimoso
De tanta desventura; de piedade
Movido o louro Deus, ou de crueldade,
Em fonte o converteu, e a cor trazendo
Do sangue, que do peito está vertendo,
Por castigo maior do fatal erro
Sobre ele faz bater o duro ferro.
Assim atado ao Cáucaso gelado
O ventre vê das aves devorado
Em contínuo tormento esse, que intenta