De Apolo arrebatar com mão violenta
O raio, de que anima a estátua muda,
Que tanto em fabricar seu dano estuda.
Tudo isto canta a Ninfa, e alegre passa
A dar à linda voz mais bela graça:
Levando o rosto, e os olhos aplicando
Para as lâminas de ouro, e reparando
Em cada uma, concebe um novo alento;
Aqui levanta, e esforça o acorde acento,
E como se Itamonte lhe influíra,
Do peito do Gigante as vozes tira.
Matéria é de coturno, e não de soco,
O que a Ninfa cantava; eu já te invoco,
Gênio do pátrio Rio; nem a lira
Tenho tão branda já, como se ouvira
Quando a Nise cantei, quando os amores
Cantei das belas Ninfas e Pastores.
Têm os anos corrido, além passando
Do oitavo lustro; as forças vai quebrando
A pálida doença; e o humor nocivo
Pouco a pouco destrói o suco ativo,
Que da vista nutrira a luz amada:
Tampouco vi a testa coroada
De capelas de louro, nem de tanto
Preço tem sido o lisonjeiro canto,
Que os mesmos que cantei me não tornassem
Duro prêmio; se a mim me não sobrassem
Estímulos de honrar o pátrio berço,
Deixara de espalhar pelo Universo
Algum nome, deixara... mas Eulina
Me chama já: soava a voz divina,