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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

Nesse sentido, sob vários nomes - crioulos, pardos, negros, africanos -, os escravos e libertos constituíram-se em figuras importantes no processo de separação, fosse na própria atuação na luta a favor da Independência nas províncias, como Bahia e Maranhão, fosse como uma força ameaçadora, ou seja, uma nova representação[1] da revolta do Haiti, de que os portugueses lançavam mão para evitar o desenlace final da separação entre os dois povos outrora irmãos.

3. Redatores de panfletos e sua atuação entre os anos de 1821 e 1824

Se há os anônimos, outras fontes podem revelar atores e processos originais na Independência. Os panfletos impressos, bem como os periódicos que pulularam a partir da relativa liberdade de imprensa em 1821, também trazem à tona vultos que tiveram significativa participação naquela conjuntura. Tais escritos de circunstâncias transmitiam os acontecimentos políticos a uma plateia mais ampla de forma até então inédita, permitindo uma discussão pública de todo esse processo e trazendo à tona personagens pouco comentadas entre os anos de 1821 e 1822. Embora muitos sendo anônimos ou escritos a partir de pseudônimos, é possível identificar alguns de seus autores, inserindo-os em uma rede de sociabilidades e identificando sua participação no processo de ingresso do Império Brasílico na política moderna, quando de sua cisão com a pátria-mãe.

Uma figura instigante bastante desconhecida da historiografia foi José Anastácio Falcão, português nascido provavelmente em 1786. Foi autor de panfletos, periódicos e manuscritos entre a época das invasões francesas e a ascensão de D. Miguel ao trono português em 1828. Regra geral, em seus escritos defendeu as ideias constitucio-

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  1. O conceito é utilizado na perspectiva de CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. 2. ed. Lisboa: Difel: 2002, p. 13-28. Para a ideia de medo social em tempos de comoção, cf. LEFEBVRE, Georges. O grande medo de 1789: os camponeses e a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1979.