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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

nais, apresentando uma peculiaridade fundamental: em sua trajetória circulou entre Portugal, África e Brasil, envolvendo-se em inúmeras polêmicas no momento da implantação do constitucionalismo no Império Português e de sua dissolução. Preso em Lisboa por ter falsificado bilhetes da loteria da Santa Casa de Misericórdia, segundo relatório do oficial da polícia em 1828, foi condenado à pena de degredo para Angola. Com as primeiras notícias da Revolução de 1820, tentou implantar naquela parte do reino português as bases da Constituição de Portugal para quebrar os ferros do despotismo. Veio, em seguida, para o Brasil, Rio de Janeiro, onde obteve perdão do príncipe regente D. Pedro[1]. Segundo Raphael Rocha de Almeida, em estudo recente que retoma tal personagem, pode-se levantar a hipótese de que Anastácio Falcão receberia dinheiro para publicar textos favoráveis ao governo em Portugal, para onde regressou[2].

No Rio, escreveu O alfaiate constitucional e Os anti-constitucionais[3]. O primeiro impresso podia ser encontrado em várias livrarias da Corte Imperial e vendido no Ultramar, conforme anúncio publicado na Gazeta do Rio[4], o que evidencia a ampla circulação de impressos e de informações políticas de um lado a outro do Atlântico. A obra obteve sucesso, como descrevia o anúncio: “Tendo-se concluído com

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Forum

  1. NOTA de que consta nesta Intendência Geral da Polícia acerca de José Anastácio Falcão, datada em 24 de março de 1828. In: MARTINS, Rocha (coord.). Correspondencia do 2º visconde de Santarém: I volume: 1827-1828. Lisboa: A. Lamas Motta & Cia, 1918. p. 41-43. Disponível em https://bit.ly/3ee1B0d. Acesso em: 18 jun. 2020.
  2. ALMEIDA, Raphael Rocha de. A trajetória política e as ideias de José Anastácio Falcão em meio à crise do império atlântico português (1808-1828). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 30., 2019, Recife. Anais […]. São Paulo: Anpuh, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3ehgVt0. Acesso em: 18 jun. 2020.
  3. Cf. FALCÃO, José Anastácio. O alfaiate constitucional: diálogo entre o alfaiate e os freguezes. Partes I-IV. Rio de Janeiro: Tip. Nacional, 1821; Idem, Os anti-constitucionaes: prova-se que são maos christãos, maos vassallos: e os maiores inimigos da nossa patria. Parte I. Rio de Janeiro: Tip. Regia, 1821.
  4. GAZETA DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro, n. 97, 13 out. 1821. A subscrição da obra foi noticiada pelo DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro, n. 23, 25 jun. 1821. No anúncio afirmava-se que a obra devia agradar igualmente ao Público, pois era concebida “em um tal sentido, que só poderá estimular aquele que lhe servir de carapuça”.