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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

brevidade incrível a primeira parte do Alfaiate constitucional, donde se colige evidentemente grande aceitação que mereceu do Respeitável Público, se mandou reimprimir O alfaiate constitucional e já se acha à venda na Loja da Gazeta”. O panfleto discutia os principais temas do constitucionalismo vintista, por meio de instigante diálogo satírico e ficcional, como confirmava o anúncio: “esta é uma severa crítica contra os abusos e perversidade dos Déspotas sendo ao mesmo tempo agradável pelo estilo jocoso”. A personagem principal - um alfaiate defensor das ideias constitucionais - realiza o seu principal ofício em casa, onde recebia vários fregueses, tipos ideais da sociedade do tempo: um corcunda, um constitucional, clérigos, um comerciante, um fidalgo, um mercador, um letrado e um comendador, à maneira de The Spectator de 1711[1]. O tema central dos diálogos é a adesão às ideias liberais e à moda constitucional, simbolizada no uso das casacas, principal especialidade do alfaiate. A repercussão do panfleto trouxe problemas ao redator, pois nos relatórios da Intendência de Polícia do Rio de Janeiro consta ter sido ele repreendido severamente por João Inácio da Cunha, em novembro de 1821, pela publicação do folheto[2]. Embora opositor da separação do Brasil de Portugal, José Anastácio Falcão é exemplo de uma personagem, como muitos da época, que circulou pelas distintas regiões do antigo Império Português. Da mesma forma, em alguns momentos, ainda que esparsos, aderiu novamente à realeza, após o movimento da Vila Francada em 1823, para depois voltar a defender um governo representativo. Em 1826 redigia uma longa exposição em português e francês sobre o estado de Portugal, denunciando um governo arbitrário e solicitando apoio para uma mudança política ao Corpo Diplomático daquela Corte[3]. Sofreu, assim, inúmeros constrangimentos, revelando o ca-

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  1. Cf. PALHARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. The Spectator: o teatro das luzes: diálogo e imprensa no século XVIII. São Paulo: Hucitec 1995, p. 52-55.
  2. POLÍCIA da Corte. Códice 323, v. 6, fl. 101. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, 1821. Cf. também SLEMIAN, Andréa. Vida política em tempo de crise: Rio de Janeiro (1808-1824). São Paulo: Hucitec, 2006, p. 149-150.
  3. Nota de que ... Op. Cit.