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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

ves da Cruz - o célebre Cabugá da Revolta de 1817[1]. No entanto, para atingir tal posto em 1824, nosso panfletário deixou suas marcas no processo de constitucionalização e separação do Brasil. A documentação sobre Rebello é escassa, mas sabe-se que veio para o Brasil ainda moço, dedicando-se ao comércio, provavelmente, no início, como caixeiro. Mas como se enredou na política?

Em fevereiro de 1821, Silvestre Rebello foi nomeado por D. João VI como Juiz da Comissão Mista entre Portugal e Grã-Bretanha. Essa Comissão era uma espécie de tribunal que tratava dos navios negreiros ilegais aprisionados, localizando-se no Rio de Janeiro e em Freetown, na Serra Leoa. Em meio à sua atividade panfletária, em que defendia a ideia de um governo constitucional cuja soberania fosse partilhada entre o Rei e a Nação, fundou em 1822, junto com José Bonifácio (seu presidente) e o Conde da Palma, a sociedade Philotechnica, tornando-se seu secretário. Segundo Oliveira Lima, era uma agremiação que, por de trás de seu verniz de conhecimento, possuía um viés político com o objetivo de reunir as distintas províncias no Brasil em uma comunidade de ideias partilhadas da qual deviam fazer parte os espíritos mais ilustrados da época; assim, ainda na visão do mesmo autor, procurava-se usar inteligência para encaminhar e disciplinar os “espíritos”[2]. O seu funcionamento foi autorizado pelo então príncipe regente D. Pedro. Naquele mesmo ano, a Sociedade publicou o impresso Annaes Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura, prefaciado anonimamente por José Bonifácio. Todavia, as atividades desta sociedade não prosseguiram, sendo extinta juntamente com seu periódico. Afinado com os ideais políticos do Patriarca da Independência, foi um dos primeiros a aderir à causa brasileira, sendo um dos cidadãos constitucionais que contribuíram para as celebrações do Império, como se verifica no Diário do Rio de Janeiro de 11 de novembro de 1822. Desse modo, com essa trajetória e atuação no processo da Independência, alinhada à postura de José Bonifácio, é compreensível sua

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Forum

  1. BRASIL-Estados Unidos, 1824-1829. Rio de Janeiro: Centro de História e Documentação Diplomática, 2009, p. 9-15.
  2. LIMA, Manuel de Oliveira. O Movimento da Independência: o Império Brasileiro (1821-1889). 4. ed. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1962, p. 137, nota de rodapé 12.