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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

indicação para encarregado dos negócios dos EUA. Sua postura indica ainda que a velha dicotomia portugueses versus brasileiros nem sempre foi seguida à risca, demonstrando os múltiplos interesses dos comerciantes nesse processo de separação[1]. Anos mais tarde, foi junto com Januário da Cunha Barbosa e Raimundo da Cunha Matos, um dos sócios-fundadores do IHGB. Verifica-se, por conseguinte, que nosso simples comerciante e negociante, autor de uma importante obra publicada em 1820, intitulada Comércio oriental - um repertório de informações sobre os portos, mercadorias, pesos e medidas da rota do Cabo da Boa Esperança ao Japão -, tornou-se homem político de atuação na Independência e no primeiro Reinado, sem dúvida não só por seus méritos, mas igualmente por sua rede de sociabilidades.

São também instigantes os autores que fazem comentários acerca das juntas governativas autorizadas pelas Cortes no decreto de 18 de abril de 1821, depois de jurada a Constituição e suas bases. As juntas foram, segundo correspondência inserida no periódico Revérbero Constitucional Fluminense, “um ato necessário, como de acessão e de identificação às ideias gerais e à reforma constitucional do governo da Nação”[2]. Para a historiografia, elas transformaram-se no alicerce do Brasil constitucional[3]. No entanto, a formação dessas juntas trouxe inúmeras tensões e conflitos ao governo do regente Pedro I. Elas se estabeleceram motivadas por um espírito dividido entre a anuência às Cortes e a repulsa ao controle central, exercido pela regência de D. Pedro. Compostas pelas elites políticas locais, organizaram-se supondo ampla autonomia nos negócios internos, transformando-se, na expressão R. Barman, no governo de “peque-

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  1. Há uma dissertação de mestrado sobre o autor, voltando-se sobretudo para sua atuação nos Estados Unidos, defendida em 2015: CRUZ, Abner Neemias da. As práticas políticas de Silvestre Rebello: um diplomata brasileiro nos Estados Unidos da América, 1824-1829. 2015. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista, Franca, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3eeWY5Y. Acesso em: 28 dez. 2019.
  2. REVÉRBERO CONSTITUCIONAL FLUMINENSE. Rio de Janeiro, n. 7, 15 dez. 1821.
  3. Cf. LIMA, Manuel de Oliveira. O Movimento da Independência: 1821-1822. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989, p. 96-97.