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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

nas pátrias”[1]. Situaram-se, por conseguinte, na origem da influência local na administração e nos assuntos fiscais das províncias, que veio a caracterizar a estrutura política do Brasil no Império, procurando impedir qualquer tentativa de um poderoso governo centralizado no Rio de Janeiro.

Um dos envolvidos nesses imbróglios foi Cassiano Espiridião de Melo e Matos. Natural da Bahia, formado em leis em Coimbra em 1819, retornou ao Brasil, sendo despachado como juiz de fora de Ouro Preto[2]. Assim, à medida que o movimento de 1821 tomava conta das principais regiões do Brasil, Cassiano Espiridião assumiu uma postura favorável à formação de uma junta governativa, em oposição ao capitão-general Manoel de Portugal e Castro, que acusava essa tentativa de ser um tumulto organizado por “revolucionários, amotinadores da tropa e do povo”, que desejavam a “independência absoluta da província de Minas Gerais”, tendo ele tomado providências imediatas para sufocar a rebelião[3]. Os ânimos, no entanto, não se acalmaram, surgindo conflitos entre a antiga administração e os que apregoavam um sistema constitucional, nos moldes daquele implantado pelas Cortes de Lisboa. Tais desentendimentos transpareceram em uma polêmica nos jornais do Rio de Janeiro, envolvendo cartas e opiniões diversas. Em uma dessas polêmicas, encontrava-se Espiridião de Melo e Matos. Em carta ao redator da Gazeta do Rio de Janeiro, nossa personagem fazia críticas à atitude anticonstitucional de seu redator, ressaltando que os governos provisórios não tinham sido instalados com o único fim “de fazerem jurar a Constituição

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Forum

  1. BARMAN, Roderick. Brazil: the forging of a nation (1798-1852). Stanford: Stanford University Press, 1988, p. 75.
  2. Na Universidade de Coimbra, foi colega de Almeida Garrett, sendo mais tarde uma das personagens invocadas em sua obra com o nome de Spiridião Cassiano di Mello i Matoôs. Cf. RIBEIRO, Maria Aparecida. Imagens do Brasil na obra de Garrett: invocações e exorcismos. Revista Camões, Lisboa, n. 4, p. 115-127, 1999. Disponível em: https://bit.ly/37DT5VM. Acesso em: 18 jun. 2020.
  3. MEMÓRIA Explicativa do Anti-Constitucional o Excellentissimo Senhor D. Manoel de Portugal e Castro, Governador e Capitão General de Minas Geraes, tanto no Acto do Juramento das Bases da Constituição no dia 17 de julho, como no das Eleições de Comarca nos dias 19 e 20 de agosto deste anno de 1821. [S. l.: s. n.], 1821, p. 2.