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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

mandarem deputados às Cortes”; visavam a outros objetivos, “talvez ainda mais precisos [sic] fins”, como o de “extirpar abusos, extinguir despotismos, tirar o bastão aos generais e umas fardas bonitas e fazê-los vestir conformemente com os povos”[1]. Dessa forma, evidenciava-se que Cassiano Espiridião era partidário do constitucionalismo português, vendo no sistema colonial apenas uma opressão do Antigo Regime. Mais tarde, afastado de seu cargo, colocou-se contra a independência do Brasil - um voto contra a mais nobre das causas, nas palavras de Joaquim Manoel de Macedo, o que se “podia tolerar em um Madeira ou em um Avilez, mas nunca em um brasileiro”[2]. Autor de carta panfletária, embora já conhecido na política, é interessante acompanhar a trajetória posterior desse brasileiro contrário à causa “nacional”. Perdoado pelo Imperador, foi designado para a Relação de Pernambuco em 1824, no momento da Confederação do Equador. Colocando-se a favor de Paes Barreto et pour cause de Pedro I foi preso. Mais tarde, foi ainda desembargador da Relação da Bahia (1830), mantendo-se no período da abdicação e da Regência como um fiel defensor da monarquia e da Coroa, sendo alçado a senador do Império em 1836[3].

Uma das mais instigantes e curiosas personagens, não por sua trajetória enquanto ator do processo, mas como formulador de ideias e pelas mensagens que trazem seu texto, foi Antônio Barbosa Correa - um mineiro rústico, como se autointitulava em seu panfleto Manifesto ao Grão Brasil[4]. Apesar de publicado em 1824, descreve a histó-

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  1. MATTOS, Cassiano Spiridião de Mello e. Snr. redator da Gazeta do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tip. de Moreira & Garcez, 1821, p. 4. Há uma resposta a este artigo, redigida por Francisco Adjuto Garcia, acusando Cassiano de corcunda. Cf. CARTA dirigida a Cassiano Spiridião de Mello e Mattos, pedindo a definição de corcunda ou constitucional, datada de 17 de dezembro de 1821. Rio de Janeiro: Imp. Nacional, [1821].
  2. MACEDO, Joaquim Manoel de. Anno Biographico Brazileiro, 1876. Vol. III. Rio de Janeiro: Typographia e Litographia do Imperial Instituto Artistico, 1876, p. 56.
  3. Ibidem.
  4. CORREA, António Barbosa. Manifesto ao Grão Brasil, Império dos Impérios do Mundo, oferecido à S. M. Imperial Defensor Perpetuo do Brazil por António Barbosa Correa Mineiro Rústico: ligado às profecias do Bandarra, e de outros profetas. Org. Loryel Rocha. Rio de Janeiro: Instituto Mukharajj, 2017.