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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

ria de Portugal e a história do Brasil baseado na literatura profética e em crônicas portuguesas, especialmente nas profecias de Bandarra. Gonçalo Annes Bandarra foi sapateiro português do século XVI e autor de trovas que ficaram ligadas ao sebastianismo e ao milenarismo português. A cada momento de tensão e de crise em Portugal, as trovas eram reeditadas, como na época das invasões napoleônicas, retomando-se o mito do Encoberto, ou seja, o retorno do rei D. Sebastião para tirar o reino da crise profunda que vivenciava[1]. Pouco se sabe acerca de Barbosa Correa, autor do panfleto, exceto o que o próprio descreve em seu panfleto. Oriundo de Minas Gerais, dizia-se uma “ovelha vítima de lobos”, como as profecias de Bandarra indicavam: “Vejo os lobos comer / As ovelhas degoladas / As vacas montadas / E os cordeiros gemer”[2]. Possuía uma lavoura em Minas, que cultivava com 12 escravos, o que lhe permitia sobreviver. Desde 2 de março de 1819, no entanto, época em que foi para a Corte do Rio de Janeiro, teve que empenhar um escravo de nome Fortunato para pagar suas despesas. Tal situação era fruto da prisão de seu cunhado por ordem do Comandante de Ordenanças do Distrito. Barbosa Correa havia tomado o partido do cunhado, chamando publicamente o comandante de incapaz. Apesar de ter representado queixa ao governador da província - D. Manoel de Portugal e Castro -, sofreu perseguições, sendo este seu grande crime, que fez de sua mulher viúva, embora tivesse marido, e de seus filhos, órfãos tendo pai[3]. Mas o que pregava Antônio Barbosa Correa? Como interpretava o processo de Independência do Brasil?


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  1. Para a análise do sebastianismo, cf. HERMANN, Jacqueline. O sebastianismo e a Restauração Portuguesa. Voz Lusíada, Lisboa, n. 11, p. 3-16, 1999. HERMANN, Jacqueline. No reino do desejado: a construção do sebastianismo em Portugal, séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. Para a reedição das trovas de Bandarra na época das invasões napoleônicas, cf. NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira. Napoleão Bonaparte: imaginário e política em Portugal: c. 1808-1810. São Paulo: Alameda, 2008, p. 251-254.
  2. CORREA, António Barbosa. Manifesto ao Grão Brasil ... Op. cit. p. 102-103.
  3. Ibidem, p. 103-104.