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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

nada "amigável", que envolveu lutas e disputas, como as guerras de independência e a tensão da Confederação de 1824, apesar de muito desses atores proclamarem que a união das províncias passava a representar a força do novo Estado Brasílico.

Por último, convém insistir nos panfletos políticos impressos e o estudo de seus redatores. Ao se transformarem em instrumentos de debate público, tais escritos permitiram a instrução de leitores e a formulação de questões que representavam interesses de setores distintos da sociedade, compreendidos a partir da vivência que os contemporâneos experimentavam do passado, levando ao acúmulo de experiências e à possibilidade do surgimento de um horizonte de expectativa diferente, formulado por meio das novas linguagens políticas disponíveis - a do constitucionalismo e a do liberalismo. Ao ignorá-los, corre-se o risco de fazer interpretações anacrônicas.

A identificação e o conhecimento de seus redatores, muitas vezes anônimos, contribui, por sua vez, para mapear aqueles que integraram esse jogo. Agentes fundamentais, eles elaboraram argumentos que viabilizaram releituras do processo, embora, com frequência, tenham ficado esquecidos. Não à toa, dos muitos autores citados não foi possível encontrar sequer um retrato. Eram homens, no entanto, que, regra geral, conheciam as novidades da época e pretendiam assegurar um futuro distinto daquele que tinham vivenciado na política do Antigo Regime. Esses indivíduos galgaram postos políticos ao longo do Primeiro Reinado em função dos laços de sociabilidade que adquiriram e possibilitam perceber como o antigo Império Português encontrava-se interligado entre a Europa, a América e a África. Trata-se, portanto, de uma direção de investigação que pode levar a apreender os homens em sua diversidade e experiência concreta.

Para concluir, vale salientar que o estudo desses esquecidos permite ultrapassar as fronteiras de uma história cujo fulcro encontra-se na ideia de nação. Por meio de encontros, trocas e contatos entre as diversas partes do Império Português, as narrativas de suas ações apontam para a necessidade de conhecer e analisar comparativamente os processos de separação da América Inglesa e da América Hispânica. Desse esforço podem surgir novas suposições sobre o

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