Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/359

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— Hei de adoral-a, Bertha — murmurou Jorge, submettido.

— Vamos; procedamos agora como se nada se passasse entre nós. Ganhemos coragem para cada um cumprir o seu dever e separemo-nos como bons amigos.

E commovida ainda, estendeu a mão a Jorge, que a levou apaixonadamente aos labios, cobrindo-a de beijos.

— Bertha, Bertha, não será quasi um crime o que fazemos? Despedirmo-nos assim quando pela primeira vez nos revelamos?

— Não, Jorge, não é. É um dever... doloroso, mas é um dever.

Ouviram-se as vozes de Thomé e de Luiza, que voltavam.

Jorge ergueu-se sobresaltado:

— Não posso simular a placidez necessaria para fallar-lhes e ouvil-os fallar n'este casamento, Bertha; como hei de ter animo para o presenciar? Adeus e... se lhe faltar a coragem... tudo se remediará ainda.

— Adeus, Jorge. Havemos de ser dignos um do outro. Não fraquearemos.

E Jorge sahiu da sala para não se encontrar com Thomé.

Bertha recebeu os paes já com os olhos enxutos, ainda que agitada pela violencia da ultima scena.

Luiza parecia mediocremente encantada com a perspectiva do casamento que tanto satisfazia Thomé.

— Então é verdade, Bertha? E tu querel-o? — perguntou ella em tom de quem duvidava.

— Sim, minha mãe, julgo que devo aceitar.

— E... e o snr. Jorge... tambem te aconselhou?

— Sim — respondeu Bertha mais enleiada — o snr. Jorge é de parecer que sim.

— Já se retirou? — perguntou Thomé da Povoa, procurando-o com a vista.

— Já. Disse que não podia demorar-se. E eu peço licença para me retirar tambem.

E Bertha apressou-se a sahir da sala para se esconder no seu quarto e chorar.