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OS MAIAS
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á direita da condessa, tendo ao lado D. Maria da Cunha, que n’esse dia parecia um pouco mais velha, e sorria com um ar cansado.

— Que tem feito todo este tempo, que ninguem o tem visto? perguntou-lhe ella, desdobrando o guardanapo.

— Por esse mundo, minha senhora, vagamente...

Defronte de Carlos, o snr. Sousa Netto, que tinha tres enormes coraes no peitilho da camisa, estava já observando, emquanto remexia a sopa, que a senhora condessa, na sua viagem ao Porto, devia ter encontrado nas ruas e nos edificios grandes mudanças... A condessa, infelizmente, mal tinha sahido durante o tempo que estivera no Porto. O conde, esse, é que admirara os progressos da cidade. E especificou-os: elogiou a vista do Palacio de Crystal; lembrou o fecundo antagonismo que existe entre Lisboa e Porto; mais uma vez o comparou ao dualismo da Austria e da Hungria. E através d’estas coisas graves, lançadas d’alto, com superioridade e com peso, a baroneza e a senhora d’escarlate, aos dois lados d’elle, fallavam do convento das Selesias.

Carlos, no emtanto, comendo em silencio a sua sopa, ruminava as palavras da condessa. Tambem ella conhecia já a sua intimidade com a «brazileira». Era evidente pois que já andava alli, diffamante e torpe, a tagarellice do Damaso. E quando o criado lhe offereceu Sauterne, estava decidido a bater no Damaso.