Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/233

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Na segunda viagem Gaspar Corte-Real singrou mais para o norte, mas nunca mais voltou. Foi em sua busca seu irmão Miguel Corte-Real, mas tambem se perdeu entre os gelos, voltando as caravelas que acompanhavam a sua. E é de ver que, longe de procurarem terras para o sul das que primeiro tinham descoberto, e que seriam de certo mais attrahentes e tentadoras, era sempre para o norte que seguiam, tão radicado estava no seu pensamento o desejo de procurarem a Asia, a Asia opulenta, por aquellas gelidas paragens septentrionaes, de fórma que a procura d’essa passagem do noroeste que fez tantos martyres nos tempos modernos e glorificou tantos navegadores illustres, foi tambem pelos Portuguezes primeiro tentada com audacia mais notavel ainda por serem meridionaes que nem tinham visto talvez em toda a sua vida neve, mas que orgulhosos de terem provado que não era inhabitavel a zona torrida queriam a todas as zonas declaradas inhabitadas pelos antigos, ampliar a sua demonstração, e quando Franklin, o heroe moderno, que esse ao menos sempre vivera em regiões onde o frio é um inimigo constante que se conhece e com que se lucta, ia deixar n’essas ignotas regiões o seu cadaver e dos seus e o casco esmigalhado do seu navio, encontrou talvez enterrada em eternos gelos a caravela de Miguel Corte-Real, e branquejando entre as neves á luz crepuscular do sol dos polos os ossos