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Os topônimos com a posposição tupi -pe no território brasileiro

(Conclusão)

Quadro 1.

Macuripe, Seringal (Amazonas)

Mamanguape (Paraíba); Mamanguape, Rio (Paraíba)

Maragogipe (Bahia); Maragojipe, Porto (Bahia)

Maranguape (Ceará, Acre)

Mararanguape (Rio Grande do Norte)

Mataripe (Bahia)

Meaípe (Espírito Santo)

Mucuripe (Amazonas); Mucuripe, Farol (Ceará); Mucuripe, Ponta do (Ceará)

Mussurepe (Rio de Janeiro)

Mutuípe (Bahia)

Nova Itaípe (Bahia)

Paratibe (Pernambuco)

Paripe (Bahia)

Peruíbe (São Paulo); Peruíbe, Ilha do (São Paulo)

Peruípe do Norte, Rio (Bahia); Peruípe do Sul, Rio (Bahia); Peruípe, Rio (Bahia)

Sauípe de Dentro (Bahia); Sauípe, Rio (Bahia)

Sergipe, Rio (Sergipe)

Tapiraípe (Bahia)

Tauape (Bahia)

A maior parte dos nomes geográficos terminados em -pe e -be, mostrados no Quadro 1, são hidrotopônimos, isto é, nomes de lugares que nomeiam cursos d’água, enseadas marítimas, lagos etc. (Dick, 1990). Quase a totalidade deles é composta de nomes que incluem o étimo ‘y ou seu alomorfe îy, ‘água’, ‘rio’, do tupi antigo, que se realizam em português em Í, Ú ou GI / JI (por exemplo, ‘Sauípe’, ‘Inhambupe’, ‘Sergipe’).

Mesmo nas exceções, isto é, nos nomes sem o étimo ‘y, como ‘Mamanguape’ e ‘Maranguape’, o lexema gûá (originado do tupi antigo kûá, ‘enseada’) indica tratar-se originalmente de hidrotopônimos.

Além disso, a pesquisa geográfica dos lugares cujos nomes aparecem no Quadro 1 revela-nos que a grande maioria daquelas localidades correspondem a áreas situadas no litoral ou próximas da costa.

Há que se observar que, no sistema toponímico brasileiro, a maior parte dos hidrotopônimos de origem tupi não inclui tal posposição -pe. Com efeito, em muitos documentos cartográficos coloniais aparecem hidrotopônimos tupis sem tal morfema.

Verifica-se, finalmente, que vários nomes em -pe ou -be apresentam homologias. Há, com efeito, no Brasil, topônimos cujo único traço distintivo que os distingue de outros semelhantes é a presença ou a ausência daquela posposição tupi, por exemplo:

Parati, Rio de Janeiro

Maragogi, Alagoas

Paratibe, Pernambuco

Maragogipe, Bahia

ORIGEM DOS TOPÔNIMOS EM -pe E -be: DUAS HIPÓTESES DE LEMOS BARBOSA

Antônio Lemos Barbosa, professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) nas décadas de quarenta, cinquenta e sessenta do século passado, foi quem primeiro chamou a atenção para a existência dos nomes geográficos que incluem a posposição -pe, do tupi antigo, no sistema toponímico brasileiro, atribuindo o surgimento de tais nomes aos colonos, e não aos índios tupis da costa dos primeiros séculos do Brasil. Segundo ele,

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