Saltar para o conteúdo

Página:Osmîa - tragedia de assumpto portuguez, em cinco actos (1788).pdf/61

Wikisource, a biblioteca livre
(51)


Da tua morte, Senhor, s'acreditava
Menos cauta..

Rindac. Inſolente!

Oſmîa. Menos cauta,
Ao Pretor deixei ver que a ſua virtude
Sobre o meu coraçaõ imperio tinha.
Infiel naõ te fui; ſou deſgraçada.
Tudo, Rindaco, ſabes, ſó nos falta
Partir-mos já daqui.

Rindac. Partir, Oſmîa!
Sem que eu poſſa vingar-me?

Oſmîa Oh! Ceos, que eſcuto!
Pois ſe vingar-te julgas neceſſario, [1]
Com eſſas fortes mãos, Senhor, bem podes
A vida ſuffocar-me na garganta,
E ſe hum ferro te falta... toma, aperta. [2]

Rindac. Que dizes (infeliz) nem já percebes,
Que huma occulta vingança... huma tal mancha
Com ſangue eu lavarei... mas ſangue, Oſmîa, [3]
Que toda a mancha lave.

Oſmîa. E que outro ſangue
Póde a mancha lavar, que o meu naõ ſeja?
Se a culpa em mim reſide... ſe eu ſou cauſa...

Rindac. Eu naõ decido, Oſmîa, ſe tens culpa:
Se tanto imaginaſſe; mas... naõ quero
Eu meſmo dar calôr á ſanha crûa,
Que o coraçaõ começa a devorar-me.
Se innocente pertendes que te julgue,
Dá-me a prova tu meſma. Occulto ferro,

G ii
Oſ-

  1. Deſatando a cinta, com a qual em quanto diz os tres verſos ſeguintes, dá huma volta á roda da garganta; e ditos elles, entrega huma ponta da cinta a Rindaco, ficando com outra na maõ.
  2. Rindaco lança maõ da faxa com huma eſpecie de furor, que naõ deixa perceber o ſeu intento.
  3. Desfaz o laço, ſem tirar a faxa.