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CAPITULO V


O NAVIO DOS PIRATAS


NO outro dia tia Nastacia apareceu com o beiço ainda mais caido, porque a sua sombra continuava a desaparecer. Colocou-se entre o lampião e a parede e disse para dona Benta:

— Veja, sinhá. Só resta um tiquinho...

— E o visconde, que diz a isso?

— O visconde promete pegar o ladrão de sombra, como pegou o gato, mas ainda está "estudando", como diz ele.

Emilia, que andava de ponta com o visconde, meteu o bedelho.

— No caso do gato Felix ele descobriu tudo porque eu ajudei. Se eu não tivesse arrancado aquele fio do bigode do gato ladrão, queria ver! Esses tais detectives são uns grandes palermas...

— Sonso ele é, disse tia Nastacia. Mas a cabecinha dele pensa tão certo que até dá inveja na gente. Vocês vão ver como ele descobre o ladrão.

O visconde, que estava escondido debaixo da mesa, tudo ouvindo e observando, notou o torcimento de nariz da Emilia. E desde esse momento começou a desconfiar que a criminosa fosse ela.

Dona Benta sentou-se e dispôs-se a continuar a historia.

— Onde ficamos hontem? perguntou.

— Peter Pan havia saido da caverna para salvar os outros, disse Pedrinho.

— Sim, é isso. Peter Pan dirigiu-se para o navio dos piratas. Oh, era horrendamente feio esse navio! Feio e velho, de velas sujas e cordas sebentas, com um