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alzira a olinda
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Acoberta-se com mendaces roupas.
A modestia o pudor gera a ignorancia,
Ou do mal-feito um sentimento interno;
O mais é cobardia, ignavia rude,
Que só n′uma alma vil póde arraigar-se.
Cabe, a quem soube respirar, vencendo
Da impostura as traições, um ar mais puro;
Olhar d′em torno a si, ver quão distante
Pulverulenta jaz infame turba:
Cabe ostentar o garbo, e a louçania
Que espanta o vulgo, impondo-lhe o respeito
De que a nobre altivez se faz condigna.
Deixa-lhe os modos, toma o que te cumpre,
Sincera Olinda, tua amiga imita
Eu não córo de dar-me toda a Alcino,
Nem eu córo tambem de confessal-o:
Instinctos naturaes se não são crimes,
Como crime será narrar seus gosos?...
Se é innocente a acção, a voz não pecca;
D′est′arte saboreia o que estudaste,
E d′est′arte fallar, ah! não vacilles!...

Não te escuse o pensar que egual pintura
Objecto egual exige, minha Olinda.
Não; nos gostos de amor sempre ha mudança.
Amor sempre varia os seus deleites,
Eu mostrei-te o modelo; em mim o encontras:
Usa da singeleza que te é propria
E abre o teu coração, cheio de goso,
Qual, antes de o provar, ingenua abriste.
Se expor da sorte infensa a crueldade