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Henrique Lins

O aviador saiu contra o vento. A partida deu-se às 4:45h, com o dia já terminado. O aparelho, favorecido pelo vento de proa e também por uma leve inclinação, está quase que imediatamente em vôo. Desfila apaixonadamente, surpreende os espectadores mais distantes que não se acomodaram a tempo. Para evitar a multidão, Santos Dumont aumenta a incidência e ultrapassa 6m de altura. Mas no mesmo instante a velocidade diminui. Será que o valente experimentador teve um instante de hesitação? O aparelho parecia menos equilibrado, certamente: ele esboça uma volta para a direita. Santos, sempre admirável por seu sangue-frio e por sua agilidade, corta o motor e volta ao solo. Mas a asa direita toca o chão antes das rodas e sofre pequenas avarias. Felizmente Santos está ileso e é acolhido impetuosamente pela assistência entusiasmada que o ovaciona freneticamente, enquanto Jacques Fauré carrega em triunfo sobre seus robustos ombros o herói desta admirável proeza”[1].

Este vôo é o marco inaugural da aeronáutica: trata-se do primeiro vôo homologado da história da aviação e os primeiros recordes reconhecidos pela Federação Aeronáutica Internacional: distância, 220m, duração; 21s 1/5; e altitude, 6 metros.

Apesar da impressionante demonstração, Santos Dumont continuou avançando. Ele havia adotado a configuração proposta pelos irmãos Wright e colocou o leme na frente do 14 Bis. Desde o início dos testes sentiu tratar-se de uma solução ruim, embora parecesse ter algum sentido. “Era o mesmo que tentar arremessar uma flecha com a cauda para a frente...”[2]

Raciocinava: para decolar é preciso fazer uma força para cima com o intuito de abandonar o contato com o solo. O leme na frente daria, naturalmente, esta força. Mas a decolagem ocorre não pela ação do leme, e sim pelo aumento de sustentação das asas. A colocação do leme na parte posterior permite que, mediante uma força para baixo, atuando na cauda do aparelho, faça com que o conjunto gire e aumente o ângulo de incidência das asas. Como vários inventores já haviam demonstrado, o aumento do ângulo de incidência leva a um significativo aumento da sustentação, fazendo com que o aparelho levante vôo. Sem ter abandonado o 14 Bis, construiu um novo aparelho, este com o leme na parte posterior. Como comentou o seu amigo e324

  1. Cléry, A.. 1906. Nouveau triomphe de Santos-Dumont. L’Aerophile. Decembre 1906. P. 292.
  2. Santos Dumont, Alberto. 1918.O que eu vi o que nós veremos. Edição do Autor. Petrópolis. 100pp. P. 54.