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Henrique Lins

Apesar deste início pouco promissor, a memória sobre a Navegação Aérea de Julio César foi apresentada ao Instituto Politécnico e obteve parecer favorável do próprio Barão de Teffé. Graças a isso Julio César obteve recursos do Império para dar continuidade a seus estudos. Chegou, inclusive, a construir protótipos e a realizar demonstrações perante o Imperador, sem, contudo, ter obtido sucesso. Os recursos obtidos foram insuficientes para dar prosseguimento ao projeto.

A visão predominante até fins do século XIX era de que a dirigibilidade nos ares era um problema sem solução e quem se aventurasse neste campo não passava de um visionário ingênuo. Diversas tentativas de se atingir sucesso haviam sido feitas, muitas com financiamento de governos. Um exemplo foi o grande balão dirigível de Renard e Krebs, movido por um motor elétrico e que conseguiu realizar um vôo em circuito fechado. De certa maneira, provava ser possível dar direção a um balão. Mas o exército francês considerou a demonstração decepcionante e abandonou o projeto, como viria a fazer em 1896 com o aeroplano de Clément Ader. Assim, na década de 1890 o vôo era assunto restrito a duas classes: os ficcionistas, como Júlio Verne, que escreviam ou imaginavam máquinas assombrosas, ou, naturalmente, os inventores que, muitas vezes sem conhecimento de conceitos básicos da aerodinâmica, se aventuravam no projeto e construção de aparelhos não menos assombrosos. Santos Dumont iniciou sua carreira de inventor e inovador justamente neste clima. Provar para todos que os seus inventos podiam realizar as proezas prometidas era, sem sombra de dúvida, capital para o seu projeto de longo prazo. Além disso, uma vez que no meio acadêmico o vôo era ainda um problema sem solução, e em que diversos cientistas de renome, como Lord Kelvin, manifestavam-se cépticos, a demonstração pública era a única forma convincente de mostrar que um invento realizava a função anunciada.

Santos Dumont, além disso, procurou resolver o problema da dirigibilidade de balões abordando-o de maneira extremamente racional. Eliminou todos os fatores que poderiam trazer problemas e reduziu a questão à sua forma mais simples: um pequeno balão muito alongado e um motor com a menor relação peso-potência possível na época. Isto o leva a escolher logo de início o motor a explosão, recém-inventado e utilizado nos automóveis.

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