Página:Santos Dumont - o vôo que mudou a história da aviação.pdf/9

Wikisource, a biblioteca livre

PARCERIAS ESTRATÉGICAS - NÚMERO 17 - SETEMBRO/2003

“Eu não pensei em nenhum momento na idéia de um motor elétrico, que oferece pouco perigo, mas que, por sua vez, tem o defeito capital para o balonismo de ser o motor mais pesado conhecido, contando com o peso das baterias. Eu decidi voltar para o motor térmico, mas substituir o motor a vapor pelo motor a petróleo, que naquele tempo (1897) estava tendo grande sucesso nos automóveis franceses”[1].

Receoso da possível vibração causada pelo motor, Santos Dumont realizou um experimento simples: “Desejoso de esclarecer minhas idéias sobre a questão, agarrei o meu triciclo, tal como o havia deixado na corrida Paris-Amsterdã, e acompanhado de um homem competente, conduziu-o para um local isolado do Bosque de Bolonha. Aí, escolhi uma grande árvore de galhos baixos e, por meio de três cordas, suspendi a dois galhos o triciclo e seu motor”[2]. O resultado foi excelente, pois nenhuma vibração foi verificada.

O perigo de se juntar um motor de combustão interna com um balão cheio de gás altamente inflamável foi resolvido afastando-se ao máximo um do outro. A forma do invólucro era mantida exclusivamente pela pressão interna do gás. Para garantir que a pressão interna não se alterasse durante o vôo, Santos Dumont instalou um pequeno balão de ar ligado a uma bomba acionada pelo motor de 3,5 CV. Válvulas evitavam o aumento da pressão, que poderia levar ao rompimento do invólucro de seda envernizada. O seu primeiro dirigível, pronto para voar em setembro de 1898, era a concretização de suas idéias. Em sua primeira tentativa seguiu os conselhos de outros aeronautas presentes e posicionou mal o aparelho. Ao levantar vôo o dirigível foi lançado sobre a copa das árvores e o vôo foi abortado.

Em apenas dois dias, em 20 de setembro, realizou o primeiro vôo dirigido: atingiu cerca de 400 metros de altitude e manobrou com sucesso o seu aparelho, mas, ao descer, as válvulas que mantinham a pressão interna falharam e o invólucro dobrou-se ao meio e a queda foi inevitável. Com uma presença de espírito que irá ser uma característica de toda a sua carreira como aeronauta, Santos Dumont pediu a umas crianças que brincavam para que elas puxassem o cabo-pendente, forçando que o dirigível se deslocasse contra o vento. Esta ação evitou a queda e Santos Dumont, com o seu senso de humor também característico de sua personalidade, descreveu o acidente

311

  1. Santos Dumont, Alberto. 1902. How I became na Aëronaut and my experiences with air-ships. McClure’s Magazine, vol. XIX. August 1902. P. 308.
  2. Santos Dumont, Alberto. 1973. Os meus balões. Biblioteca do Exército. RJ. 260pp. P. 130.