Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/207

Wikisource, a biblioteca livre

percorrendo lentamente as alamedas, seus olhos acariciavam as flores, que dantes a deleitavam apenas como as fitas e outros enfeites.

Lembrou-se da flor rústica da Tijuca, a que Ricardo dera o nome de “Sonhos d'ouro”. Havia o jardineiro trazido mudas, que arranjara em um alegrete, ao lado da casa. Não tivera a moça ainda a curiosidade de ver a planta, depois da sua volta a Botafogo.

Nessa tarde, porém, apertaram-lhe as saudades. Não tinha flores o arbusto, que só em novembro cobre-se de botões; alisou-lhe a moça com a mão as folhas glabras, afagou-as com o olhar; e tamanha era a efusão de ternura, que teve ímpetos de beijá-las, e arrancando uma, colou-a aos lábios ardentes.

Pungiu-lhe o coração uma dor viva e intensa, como o cravar de uma lâmina. Recordou-se da primeira vez que vira Ricardo; e compreendeu então o arroubo e veemência de sua alma na contemplação da florinha agreste.

— Ele amava!... balbuciou Guida. Lembrava-se de Bela!...