Não; não sou desgraçado. Estas profundas
Dores que me aguilhoam d'alma os seios.
São os sinais de uma lição do mundo.
Sinto a dor, mas sou grato à Providência,
Que destarte me instrui, como mãe terna,
Que só para ensinar o filho pune.
No mais íntimo d'alma o virtuoso
Acha quem o console na desgraça.
Desgraçado, és tu só, tu miserável,
Tu, que não do assassino o punhal temes,
Mas o punhal da própria consciência.
Lei é da Humanidade, e não do acaso;
Sofrer, sempre sofrer é seu destino.
A Natureza o homem bruto cria,
O mundo o aperfeiçoa
Com dores e trabalhos.
Como se brunem com o atrito os seixos
No revolver das ondas,
Ou como no crisol, à chama exposta,
Se purifica a prata,
Destarte, entregue à dor, doma-se o homem.
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