Página:Suspiros poéticos e saudades (1865).djvu/294

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Mas acaso sabe o Cisne,
Terno canto desferindo,
Que em cada acento que solta,
A vida lhe vai fugindo?

Companheiro do Cisne, o tenro arbusto
Que uma só vez floresce,
E quando assim se adorna, murcha, e morre,
Como no dia nupcial a esposa,
Sabe ele porventura que essas flores
São as galas da morte?
A lâmpada que expira, e um clarão solta,
Acaso sabe se lhe míngua o óleo?
O rio que no prado se resvala,
Acaso dizer pode:
Amanhã terá fim minha corrente?
E o zéfiro que brinca saltitando
Sobre as frescas corolas, sabe acaso,
Se ainda existirá no sol seguinte?

Nós acaso conhecemos
Melhor que eles nossa sorte?
Podemos dizer: este hino
É nosso hino de morte?