Página:Suspiros poéticos e saudades (1865).djvu/47

Wikisource, a biblioteca livre

Qual da verdade o Anjo,
Que tudo vê com olhos luminosos;
Tua voz similhante a uma torrente
Tudo abala, e consigo arrasta tudo.

Oh Poesia, oh vida da Natura!
Oh suave perfume
D'alma humana exalado!
Oh vital harmonia do Universo!
Tu não és um fantasma de beleza.
Falaz sonho de mente delirante,
E da mentira a deusa;
Tu não habitas só da Grécia os montes,
Nem só de Febo a luz te inspira o canto!

D'alvo manto coberta, roçagante,
Lá no meio da noite, quando a lua
Só para os mortos alvejar parece,
Como a lanterna fúnebre do claustro,
Tu, encostada à Cruz do cemitério,
Como o Anjo da morte,
Ao som de uma harpa suspirando exalas
De quando em quando teus sagrados salmos;