um morto ou se o dia fosse de respeito, como os da Semana Santa. A alegria passava fugitivamente por aquele coração ferido, como a sombra duma ave rasteja n'água de uma lagoa triste. Quando o filho reapareceu já a encontrou na tortura.
— Viste na Gazeta o suicídio daquela moça?
— Não, senhora.
— Dezoito anos! - suspirou baixando a cabeça ao peso dum pensamento doloroso. - É duma coisa assim que eu tenho medo. E levantou os olhos que brilhavam úmidos por trás das lentes dos óculos de ferro. - É mesmo, meu filho. Foi uma loucura, mas sabe Deus se, a esta hora, ela não está arrependida por aí. É por isso que eu não durmo.
— Ora, mamãe... Está a senhora a gastar cera com ruim defunto.
— Para que falas assim!
Encarou-o repreensiva e já as lágrimas rolavam-lhe dos olhos, grossas e compridas, caindo nas velhas camisas que ela amontoara ao colo, quando Paulo, encolhendo os ombros, resmungou:
— Está bom...
— Deixa! o choro alivia-me.
— Mas mamãe há de passar toda a vida chorando?
— E achas que posso viver alegre?
— Mas isso aborrece.
— Aborrece... Aborrece por quê? Eu não tenho