o teu coração. Vivo aqui sozinha e, quem me faz companhia, ainda assim, é ela.
— Violante?
— Então?
— Pois sim...
— Agradece a Deus esse gênio. És indiferente, não te importas. Eu não sou assim. Que hei de fazer? A culpa não é minha.
Estavam os dois conversando quando Felícia entrou na sala, a correr, espantada como se houvesse visto algo de sobrenatural. Paulo encarou-a.
— Que é?
A negra resmungava, com os olhos cravados no corredor da cozinha; pôs-se depois a examinar o vestido, a esfregar os braços; e respirou largamente.
— Que é, Felícia? - perguntou Dona Júlia, descansando os óculos na costura.
— Que coisa, minh'ama! Esta casa não é direita - e meneou com a cabeça lentamente. - Não é direita, não. Já não é a primeira que me acontece.
— Que foi? indagou o estudante.
— É alma, nhonhô. Eu ouço voz: chamam por mim, puxam o meu vestido. Outro dia, eu estava estendendo roupa no quintal, e ouvi um gemido saindo do chão, como de gente enterrada. Fiquei toda arrepiada, com os cabelos em pé, e corri para dentro. Estava batendo meio-dia.