— Tu estás malucando, rapariga - disse Paulo com indiferença.
— Malucando... Eu só queria que vosmecê ouvisse. Esta casa não é direita, - repetiu d'olhos baixos, fazendo com a mão um gesto negativo. - Não é direita, não! Queira Deus que seja maluquice minha; e vagarosamente, receosamente, foi caminhando para a cozinha.
Uma chuva miúda, peneirada, batida de vento, entrava pela janela. orvalhando o oleado da mesa. Paulo desceu a vidraça, murmurando contra aquele tempo inconstante. O céu estava completamente encoberto, não havia mais esperança de sol, e o mar, enfurecido, estrondava d'encontro ao cais.
— Vais sair com este tempo?
— Que remédio!
— Mas almoças primeiro?
— Almoço.
Recolheu-se ao quarto e, com a toalha úmida pelos ombros, esfregando as mãos, ficou a pensar no jogo que devia fazer. Antes, porém podia dar um pulo à estalagem: prometera um presente à Ritinha; ao mesmo tempo resolveriam sobre a mudança, traçando o programa amoroso da vida em comum, num cantinho que ele mobilaria com gosto, onde poderia passar parte das noites gozando os carinhos dengosos da mulata. Pôs-se a assobiar, indo e vindo no acanhado aposento, até que ouviu uma badalada de sino. Meio-dia! Ficou espantado e, às pressas, como se o chamassem negócios, atirou