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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/211

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ia enterrar os mortos pobres. Colando a face às altas grades das prisões, consolava os presos, ajudava nos seus trabalhos os forçados, e tendo reunido o seu salário em pão ou em dinheiro, sentava-se num adro, e distribuía-o pelos mendigos.

Ora um dia, saindo de uma cidade, encontrou no caminho um pobre histrião, com uma perna de pau, e acompanhado pela mulher doente, que amamentava o filhinho. Eram tão miseráveis e tristes, ele com uma espada debaixo do braço, ela suspendendo aos ombros um saco de bolas e peloticas, que Cristóvão começou a caminhar ao seu lado. Assim soube que outrora percorriam os caminhos e as feiras, ganhando amplamente a sua vida, e (desde que ele, numa queda, perdera a perna) mostrando cães sábios e um macaco, que faziam sortes maravilhosas. Havia dias, porém, estando numa taberna, numa estrada, a repousar, tinham chegado os escudeiros e homens de armas de um Senhor, que, embriagados, e numa rixa, lhe tinham, a grandes cutiladas, morto o macaco e os pobres cães. Com eles se fora a sua fortuna. Trabalhar não podia, assim manco. E agora só lhes restava mendigarem, até que o frio, a fome, os prostrassem uma noite, a eles e à criança, mortos à beira de um caminho. E o saltimbanco acrescentava: “Bem feliz és tu, que te fez Deus tão grande, e te podes mostrar nas