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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/476

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o testamento do Comendador era mais discutido que a questão do Zaire, como se sentisse, enfim, que o que se prende com a nossa literatura, interessa mais a nossa nacionalidade do que a posse ou a perda dessas estúpidas terras negras, que só nos dão humilhações e febres... Nas salas, as senhoras, interessavam-se por este homem: achava-se que ele tinha feito alguma coisa de brilhante e de chique: e desejava-se saber a sua idade, a sua figura, os seus gostos e o romance da sua vida. Não houve então brasileiro residente em Lisboa que não fosse detido, duas e três vezes, no seu caminho, com a mesma pergunta, no mesmo sorriso: «Quem é o Comendador Peres Cardoso? Que sabe V. do Peres Cardoso?...» Este estremecimento de simpatia ondulou até para além da fronteira: os jornais espanhóis falaram do Comendador, chamando-lhe um nobre fidalgo e tratando-o de Mecenas... Era, enfim, um enternecimento, um vasto reconhecimento público – como se o país tivesse pela primeira vez recebido uma afirmação positiva, explícita e visível da sua superioridade intelectual.

Ama Lisboa os seus homens de letras? Não direi que os ame. Mas, há tempos para cá, Lisboa – vendo nas suas ruas os tramways americanos, e os jornais franceses apregoados à porta dos seus teatros, e fotografias de cocottes nas vitrinas das suas lojas – imaginou que