no seu tempo não foi nem senador, nem banqueiro, mas um simples bon-vivant, e que se chamava Horácio. Mas é certo que Lisboa já vai considerando os seus literatos como um luxo que se deve ter, alguma coisa de decorativo que fica bem dentro de uma cidade, o quer que seja de brilhante que destaca da melancólica rotina das democracias. O seu sentimento pelos homens de letras, é o de um burguês pelos belos móveis de cetim da sua sala rica: gosta deles, usa-os pouco, e estima sobretudo que os outros lhos gabem. E assim se explica o rumor de simpatia que se elevou, ondulou em torno do testamento do Comendador Peres Cardoso. O público viu nele mais do que um frio papel selado, contendo as últimas vontades de um proprietário generoso. Viu nele um verdadeiro artigo de crítica, um original artigo de crítica em acção, sobre a literatura portuguesa, feito por um homem de gosto, à hora da sua morte. Somente os escritores, ali, não eram julgados por meio de frases.
O Comendador Peres Cardoso não era um Taine, nem um Sainte-Beuve. Era antes um manejador de fundos públicos. Para ele, nem a frase, nem talvez mesmo a ideia constituíam a coisa bela e suprema em que se pode ocupar uma vida de homem: para ele essa coisa suprema e bela estava no papel de crédito de onde se tira um juro. Por isso, quando na sua revista através