E, como em virtude da inacção política e sonolência individual, cada vez maiores, não haverá em breve nem factos políticos a proclamar, nem notícias particulares a referir — o discurso da coroa será obrigado, para dizer alguma coisa, a recitar obras de imaginação:
«Dignos pares e senhores deputados da Nação portuguesa: — Por uma fria noite de
Inverno, um vulto misterioso caminhava, embuçado em capa alvadia, pelos desfiladeiros da serra Morena. Vergava-lhe a fronte uma grande amargura. De súbito parou; tinha ouvido, para os lados do despenhadeiro tenebroso, um assobio lúgubre... —
Continuar-se-á na próxima sessão de abertura. Passemos agora à questão da fazenda.»
E mais tarde, cada vez mais vago, o discurso da coroa murmurará:
«Dignos pares e senhores deputados da Nação portuguesa:
«Era no Outono quando a imagem tua
A luz da Lua sedutora eu vi:
Lembras-te, Elisa?...
«E aplicaremos todo o nosso zelo à intrincada questão da fazenda.
«Está aberta a sessão.»