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Página:Ursula (1859).djvu/150

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O homem mordeu os lábios de indignação e perguntou:

— Nada mais ordenais?

— Sim, – tornou ele – quero que dobre hoje o serão destes marotos. Ah! Esta cáfila de negros, só surrados, e...

— Mas, senhor comendador, – interrompeu o feitor com acento apesar seu repreensivo, e indignado – é já meia-noite, os desgraçados ainda trabalham por acabar o serão, como pois é possível dobrar-se-lhes a tarefa?

— Oh! Lá!... – bradou Fernando e sorriu-se com horrível sarcasmo. – Que tal? Quem manda nesta casa?

— Fartai-vos de atrocidades, já que sois um monstro, – retrucou fora de si o feitor, fixando-o com um olhar de desprezo, que ele suportou –, banhai-vos no sangue dos vossos semelhantes, juntai crimes horrendos a crimes imperdoáveis; mas não conteis mais doravante comigo para instrumento dessas ações, que revoltam ainda a um coração viciado, e que só no vosso pode achar morada.

Desde já contai-me despedido do vosso serviço.

— Miserável! – rugiu Fernando sufocado pela cólera.

— Vou imediatamente avisar a velha Susana – disse consigo o feitor – e ainda será tempo de fugir. – Saiu correndo a pegar o seu cavalo, mas, à hora que tão generosamente se dirigia à casa de Luísa B., um sacerdote montado em uma mula acompanhava a preta Susana, conduzida por dois negros, e murmurava em voz inteligível estas palavras do salmo 138: “Para onde me irei de vosso espírito? E para onde fugirei de vossa face?”