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— 'Julia, Julia' bradei eu ’quero vê-la: heide vê-la uma vez ao menos. Não me negue este último favor. Sei que devo, que preciso, que é forçoso fugir d’ella. Mas antes heide dizer-lhe...’

— 'O quê?..'

— 'Que a amo como nunca amei, como nunca mais heide amar...'

— 'Ai Carlos!'

— 'Que para sempre, sempre...'

Julia levantou-se sem dizer palavra, e lançando sôbre mim um olhar de ineffavel compaixão, sahiu rapidamente do quarto.

Achei-me so, não sei o que pensei nem se pensei. Sentia-me aturdido da cabeça, exhausto do coração — n’uma depressão d’espirito que tocava na estupidez. Se me apontassem uma pistola aos peitos, não levantava o braço para a arredar... Ja não sentia pena nem desejo. Parecia-me que começava a morrer; e não achava que morrer custasse muito.