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gente chamada govêrno, chamada administração, está fazendo e deixando fazer ha mais de seculo em Santarem.

As ruínas do tempo são tristes mas bellas, as que as revoluções trazem, ficam marcadas com o cunho solemne da historia. Mas as brutas degradações e as mais brutas reparações da ignorancia, os mesquinhos concertos da arte parasyta, esses profanam, tiram todo o prestigio.

Tal é a geral impressão que me faz ésta terra. Almocemos, que ja oiço chamar para isso, e iremos ver depois se me inganei.

Ao almôço a conversação veio naturalmente a cahir no seu objecto mais óbvio, Santarem. D. Affonso Henriques e os seus bravos, San’Frei Gil e o Sancto-milagre, o Alfageme e o Condestavel, el-rei D. Fernando e a rainha D. Leonor, Camões desterrado aqui, Frei Luiz de Sousa aqui nascido, Pedralvares Cabral, os Docems, quasi todas as grandes figuras da nossa historia passaram em revista. Porfim veio Sancta Iria tambem, a madrinha e padroeira d’esta terra, cujo nome aqui fez esquecer o de romanos e celtas.