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Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/107

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E sem jantar! Não sei onde anda... Chega cansado... E não é tudo: há noites que passa em claro a ler, a ler...

Admirou-me muito o interesse afetuoso com que ela seguia a vida do sobrinho. Revelava um desvelo diário, minuto a minuto, de dia e de noite..

— Tu não me compreendes, Escolástica, apesar de me teres criado.

— Sim, de certo; essas maluquices... Essas tuas vagabundagens...

E o diálogo continuou assim, com uma frescura juvenil de amuo entre irmãos de vinte e poucos anos.

— É verdade que o Manuel sempre foi extravagante. Uma vez (ela se pôs a me contar) meu irmão, o pai, foi agarrá-lo na janela do sótão. Desce, Manuel, desce! Que fazes aí? O senhor sabe o que ele respondeu?

— !...

— Quero voar, Papai. Meu irmão repreendeu-o muito e Manuel chorou o resto da tarde.

— Era bem meu pai, lembrou Gonzaga de Sá. Alto, meticuloso, muito grave e solene — conheceste?

— Não; nem podia.

— É verdade.