Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/149

Wikisource, a biblioteca livre

sabedoria que é uma meditação sobre ela — toda a civilização resultou da morte.

Suspendeu a palavra; e, de acordo com a marcha da caleça, pôs-se a vagar o olhar pelos lados. Com ele, seguia os ornatos das cimalhas, as grades das sacadas; adiante, demorava-se mais a ver um bando de moças em traje de passeio, postadas à porta de uma casa burguesa. Afastando-se dali o carro, o seu olhar lento e macio foi parar sobre os bondes que passavam e os transeuntes na rua; deles, resvalou, pela calçada, no ponto em que uma mulher andrajosa dormia ao relento, imóvel, enrodilhada, como uma trouxa esquecida, e por fim, durante segundos, fixamente, insistentemente, pousou a vista no coche fúnebre que rodava na nossa frente.

— Levamos a procurar as causas, falou-me ele em seguida àquele longo passeio visual, — levamos a procurar as causas da civilização para reverenciá-las como se fossem deuses... Engraçado! É como se a civilização tivesse sido boa e nos tivesse dado a felicidade!

E não me disse mais nada até chegarmos ao portão do cemitério, quando me avisou que ia tratar dos atos administrativos indispensáveis à finalização do enterro. Seguimos o caixão