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Página:Vidas seccas.pdf/32

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Graciliano Ramos

os filhos soltos no barreiro, enlameados como porcos. E elles estavam perguntadores, insupportaveis. Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não tinha.

— Está ahi.

Se aprendesse qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito.

Lembrou-se de seu Thomaz da bolandeira. Dos homens do sertão o mais arrasado era seu Thomaz da bolandeira. Porque? Só se era porque lia demais. Elle, Fabiano, muitas vezes dissera: “Seu Thomaz, vossemecê não regula. Para que tanto papel? Quando a desgraça chegar, seu Thomaz se estrepa, igualzinho aos outros”. Pois viera a secca, e o pobre do velho, tão bom e tão lido, perdera tudo, andava por ahi, molle. Talvez já tivesse dado o couro ás varas, que pessoa como elle não podia aguentar um verão puxado.

Certamente aquella sabedoria inspirava respeito. Quando seu Thomaz da bolandeira passava, amarello, sisudo, corcunda, montado num cavallo cego, pé aqui, pé acolá, Fabiano e outros semelhantes descobriam-se. E seu Thomaz res-