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Vidas Seccas
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rados com annos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Elle marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas — ella se avizinhando a galope, com vontade de matial-o.

Virou o rosto para fugir á curiosidade dos filhos, benzeu-se. Não queria morrer. Ainda tencionava correr mundo, ver terras, conhecer gente importante como seu Thomaz da bolandeira. Era uma sorte ruim, mas Fabiano desejava brigar com ella, sentir-se com força para brigar com ella e vencel-a. Não queria morrer. Estava escondido no mato como tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sahiria da toca, andaria com a cabeça levantada, seria homem.

— Um homem, Fabiano.

Coçou o queixo cabelludo, parou, reaccendeu o cigarro. Não, provavelmente não seria homem: seria aquillo mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos, quasi uma rez na fazenda alheia.

Mas depois? Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão cedo. Passara dias sem comer, apertando o cinturão, encolhendo o esto-