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SENHORAS
2 Como mulher de um ministro
Oh! muitos de vós dirão;
Pois em vós um bom empenho
Por qualquer mimo terão.
3 Dirão cobras e lagartos
De vossa tão bella vida,
Tudo, senhora, por serdes
Na politica mettida.
4 Dirão que fostes mui bella,
Mui virtuosa consorte,
Que tinheis muito talento,
Mas depois de vossa morte!
5 Por negocio de namoros
E' para mal de peccados
Dirão que fostes levada
Ao tribunal dos jurados.
6 Publicarão sobre vós
Uma pequena noticia,
Achareis o vosso nome
Em as partes da policia.
7 Que sois bella e é verdade,
Pois mostraram ser exacto
Quando lá nas Bellas-Artes
Se expoz o vosso retrato.
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HOMENS
2 Elles p'ra-vossa calumnia
A uma hão de dizer
O que não lembra ao diabo,
O que esquece á mulher.
3 N'um jornal um elogio
Honroso te sahirá,
Porém aprompta os cobrinhos,
Que a conta te mandará.
4 Certa sujeita que em zelos
Contra vós continua arde,
Mil injurias vos prepara
Em o Correio da Tarde.
5 Pelo Jornal do Commercio,
Como quasi sempre vê-se,
A uma casa chamado
Sereis «por vosso interesse.»
6 Nos annuncios do Diario
Vos vereis inda atacado
Por um pai a quem tereis
A bella filha roubado.
7 Chamar-vos-hão caloteiro,
E o mais que não sei não;
Se sois um vil, meu amigo,
Por certo terão razão.
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SENHORAS
8 Dirão que comvosco o tempo
A natureza perdeu,
Que se fôrdes ficareis
Para sempre no Museu.
9 Que um moço de Nictheroy
Do barco cahio no mar;
Por querer? Sim. E a causa?
Senhora, por vos amar.
10 No Diario encontrareis
Sobre vós boa noticia!
Sobre o que? Senhora, ha de
Por força ser mui propicia.
11 Dirão que sois perdição
De muito moço bonito;
N'um folhetim de um perdido
Achareis tudo descripto.
12 Que o marido alçando a dextra
Ergue o punhal n'um momento,
Mas reflecte, e vos arrasta
A encerrar-vos em convento.
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HOMENS
8 Dirão... Mas eia, caluda,
Para que vos causar medo,
Se aquella historia de amores
Ainda está em segredo?
9 Ora dirão tudo quanto
Tendes feito de melhor..
Depois os pobres tambem
Virão...ai tanto peior.
10 Esperai! tende prudencia,
Que um annuncio fatal
Ha de cedo declarar
Certa historia de um punhal.
11 Dirão que sois, meu marmanjo,
Um refinado ladrão...
Que a certa moça roubastes
Para sempre o coração.
12 Nada dirão, meu amigo,
Que em tudo sois um casmurro,
Tão digno de sella e freio
Como tudo quanto é burro.
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