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SENHORAS
2 Por um velhinho, senhora,
Que será vosso marido;
Mas quando será, senhora,
Se o tempo inda é tão comprido?
3 Por elle — que vos adora,
Quando de vós não se esquece,
Pois outra que não sois vós
O coração lhe entristece.
4 Por vossas caras amigas,
Que sentirão na verdade
Ver morta aquella que é hoje
O arrimo da humanidade.
5 Ha quem vos ame, menina,
Lá no Sacco da Gambôa;
Depois que morta sejais
Vos chorará tal pessoa.
6 Por um que muito devoto
Em pedir esmolas é,
Que vos adora em segredo,
Ah! é o padre Quelé.
7 Dobrarão os sinos todos,
Os padres lá rezarão,
Por dinheiro — que de graça
Chorada não sereis, não.
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HOMENS
2 Por ella, essa menina
Que vêdes n'um camarote!
Chorará porque sois rico,
Porque ella não tem dote.
3 Por quem vós não sabeis hoje
O que lhe deveis pagar,
Pois até mesmo ao coveiro
Não tereis com que saldar.
4 Adeus minhas encommendas!
Que pergunta extravagante!
Nem parentes, nem amigos
Chorarão por um tratante.
5 Se não mente o povo inteiro,
E se a fama é verdadeira,
Por aquella sujeitinha
Que hoje é vossa lavadeira.
6 Pela preta dos pasteis
Que vos traz aquebrantado,
E que jura por seus olhos
Já vos ter na mão fechado.
7 Pela mulher? Isso não!
Por uma judia? Sim!
Aquella é victima, e esta
E' que está no galarim.
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SENHORAS
8 Por elle! por elle só,
E ha de esconder o pranto,
Chorando só lá n'um ermo
O seu bem, o seu encanto!
9 Por vossos filhos, que certo
Ah! muito vos amarão.
Pois digna sois de alta estima
Por tão meigo coração.
10 Por um pobre e triste ente
Que por vós foi desprezado,
Não fazendo caso delle
Sendo vosso namorado.
11 Gemerá a triste brisa
Pela triste solidão,
As aves, o mar e tudo,
Menos do homem o coração!
12 Sereis chorada, senhora,
Pelos tristissimos pobres;
Comprareis as suas lagrimas
A peso de vossos cobres?
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HOMENS
8 Sereis como Magalhães,
Dos Suspiros o cantor,
Que até cantando a Belleza
Desdenhado era de amor!
9 Como sois em tudo bom,
Sempre digno de louvor,
Sereis na morte chorado
Pela amizade e o amor!
10 Por ninguem! A ingrata amante
Nem um ai ha de soltar!
Eia pois, fiai-vos nella!
Ah! não a deveis amar!
11 Meu cara de lagartixa,
Eu vol-o digo com dor,
Que só por velha beata,
Que por vós morre de amor.
12 Sereis chorado, senhor,
Sereis bem, e porque não?
Mas ha de ser, meu amigo,
Só pelo bom sacristão.
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