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Pacotilha poetica/Que fortuna terá com seus parentes

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SENHORAS

2 Nem uma! Que todos elles
  São uns pingas sem vintem
  Até p'ra mal de peccados
  Dizem não ter o que tem.

3 Hão de fazer-vos pobrinha
  Sem terdes nem um real;
  Que essa vossa parentela
  Em chuchar não tem igual.

4 Caluda! — Um velho parente
  Vai fazer o testamento;
  O tolo passa por pobre
  Quando é um rico avarento!

5 Aos ranchos virão, senhora,
  Em vossa casa morar;
  E além de pesados serem,
  Contra vós hão de falar!

6 Muita! Excellente senhora,
  Com um primo casareis,
  E com elle de gaiola
  Vossos dias passareis.

7 Hão de, senhora, arranjar-vos
  Um mui rico casamento;
  Esperai, porque a cousa
  Está só por um momento,

HOMENS

2 Nem uma! Se ricos são
  Hão de cedo pobres ser;
  Assim tambem vossos dentes
  Hão de cedo apodrecer.

3 Pouca! Os vossos parentes
  Têm ura coração de fel!
  São uns zangãos que só querem
  Sem trabalho acharem mel.

4 Como são vossos amigos,
  Hão de assaz vos deixar
  Boas dividas que por honra
  Tereis breve de pagar.

5 Pede a Deus de noite e dia,
  Que lhes dê summa ventura,
  Lucrarás tambem com isso,
  Que nadarás na fartura.

6 Todos elles são uns pingas,
  Que querem de vós pilhar:
  De taes nescios preguiçosos
  Não ha nada a aproveitar.

7 Hão de tributar-vos tanta
  Amizade em nada vaga,
  Que vos darão um palacio
  Lá na praia da Azinhaga.

SENHORAS

8 Hão de contra o vosso gosto
  Comvosco se entremetter;
  Até no vosso consorcio
  Hão de o gadelho metter.

9 Sereis casada com um tio
  Que muito vos deixará:
  Rica viuva e inda moça,
  Quem não vos procurará?

10 Muita; e herdareis de um
  Que por vosso tio passa
  Velho barril de manteiga,
  E um garrafão de cachaça.

11 Nem uma; os vossos parentes
  São fidalgos cá dos meus;
  Nullidades muito fôfas,
  Mas que já foram plebeus.

12 Se são bons hão de ser bons
  Já por sua condição,
  Se são máos, senhora, quem póde
  Lhes transformar o condão?

HOMENS

8 A mesma que o avarento
  Que pinta o Gonçalves Dias:
  Não sabeis? Pois lêde amigo,
  As segundas poesias.

9 Se sois pequeno e elles grandes,
  Elles de vós fugirão;
  Se ao contrario, meu amigo,
  Para vós se chegarão!

10 Os mais proximos que tendes,
  Fortuna não vos darão,
  Mas alguns dos mais remotos
  Heranças vos deixarão.

11 Muita; por causa delles,
  Não ireis á Correcção
  Não será por caridade
  Porém por ostentação.

12 Honrado sereis por elles,
  E deshonrado tambem!
  Deixai-vos pois de parentes,
  Buscai só o amado bem!