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SENHORAS
2 Passareis o anno inteiro
Felizmente na janella,
Porque da casa os arranjos
São para vós bagatella.
3 Hoje aqui nesta fogueira
Entre o riso e o prazer,
Mas para o Natal que vem,
Senhora, tendes que ver!
4 Num copo exposto ao sereno,
Minha senhora querida,
Achareis assaz descriptas
As scenas da vossa vida.
5 Triste sempre e pensativa
Por um mal não prevenido,
Pois o amante que adoras
Será na guerra ferido.
6 Curando os callos aos velhos
Vosso louvado marido,
Tão moça e elle tão velho,
Que bello tempo perdido.
7 Rindo, folgando e cantando
Como aqui neste momento;
Isto em parte, porque o resto
Passareis em um convento.
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HOMENS
2 Na gaiola empoleirado
Passa o amante passarinho,
Na cadêa engaiolado
Passareis meu cupidinho.
3 Tres mezes em namorar,
Tres em seguir a ventura,
Tres em fugir á desgraça,
O resto na sepultura.
4 Ireis para a California
E achareis muito ouro!
Mas por lá acabareis
Com todo o vosso thesouro.
5 Com dura mochila ás costas
Chorareis vossa desgraça,
Pois o pai da vossa amante
Vos fará assentar praça.
6 Vivereis nas galerias
Da assembléa geral,
Vida de todo o vadio,
E que não é menos mal.
7 Passareis ainda alegre,
Pois tereis muito dinheiro,
Ganho com economia
Sendo limpa-candieiro.
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SENHORAS
8 Feliz; sois dígna disso,
E elle vos quer tanto bem,
Que para fazer-vos ditosa,
Pedir-vos a mão vos vem!
9 Bem; que inda na loteria
Tirareis premio graúdo;
Mas o vosso maridinho
Gastará no jogo tudo.
10 Será a vossa mofina
Padecer por bagatellas
Apertos de coração,
E até dores de canellas.
11 Tereis daqui ha dous mezes,
Nas pernas erysipelas,
Ah! não tereis mais ciumes,
Que ficareis sem canellas.
12 Feliz e sempre feliz;
Tendo nas faces o riso;
Sois tão boa, que do inferno
Farieis inda um paraiso.
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HOMENS
8 Feliz; tereis cama e mesa,
E casa para morar;
Que um vadio qual vós sois,
Vai á Correcção parar.
9 Morareis ainda este anno
Dos doudos no Casarrão;
Se sahindo houver dinheiro,
Esperai; — sereis barão.
10 Feliz, e nos braços della,
Que vos ama com carinho,
Como dormem duas pombas
Estreitadas no seu ninho.
11 Ella rogou-vos taes pragas,
Que por força soffrereis;
Tratar as moças tão mal,
Ah! por certo não deveis.
12 Para a festa de S. Pedro
Ir eis passar á cadêa.
Pelo que? Por uns amores
Com uma negra muito feia!
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