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Pacotilha poetica/Se será distincto em armas, artes ou letras

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SENHORAS

2 No cantar sereis perfeita
   Ao som de qualquer guitarra,
   Pois que levareis as lampas
   A toda e qualquer cigarra.

3 Deveis inda figurar
   Em uma revolução;
   A lingua, minha senhora,
   Será o vosso espadão.

4 Nas letras, pois as cartinhas
   Que mandais a um tal Fuão,
   Para o anno nas folhinhas
   A luz publica verão.

5 Nas artes; que tendes artes,
   Que nem inventa o diabo ;
   Com ellas de todo o mundo
   Em tres dias dareis cabo.

6 Nas armas sereis insigne,
   Mas nas armas de senhora;
   Quereis saber quaes sejam ?
   Que o diga quem vos adora.

7 Nas letras já sois notavel
   Pelas cartinhas de amor,
   Onde o estylo florido
   Passa até por um primor.

HOMENS

2 Para as armas sois um fraco,
  P'ra as artes sem aptidão:
  As letras não necessitam
  De tão nulla illustração.

3 Nas armas sereis um grande,
  Porém em tempo de paz;
  Na guerra fareis, amigo,
  O que muita gente faz.

4 Por tretas e não por letras
  Tereis na patria renome,
  Pois que um tratante de fama
  Ganha sempre grande nome.

6 Nas artes, que sois arteiro,
  E' no que ganhareis fama;
  Mas vosso leito de gloria
  Ha de ser da rua a lama.

6 Ella, aquella que vos ama,
  Ha de um dia coroar
  Vossos paineis, vossos quadros,
  Qu'hão de aos pósteros passar.

7 Nas armas o que fareis?
  Sois sómente um linguarudo,
  E para mal de peccados,
  Té passais por um Cascudo?

SENHORAS

8 Na musica podeis, senhora,
   Attrahir louvores tantos,
   Como os que attrahe hoje em dia
   A grande cantora Santos.

9 Nas armas; combatereis
   Brevemente em um duello;
   Morrereis, e a causa disso
   Ha de ser sómente zelo!

10 As vossas armas, senhora,
   Não são agulha e dedal?
   Mais sois insigne na lingua,
   Que é vossa arma sem igual!

11 Subi á scena! Do palco
   Vinde as glorias eclipsar,
   Que o bom povo brazileiro
   Ha de applausos mil vos dar.

12 Se a patria fôr em perigo,
   A lingua desembainhando,
   Com arma tão formidavel
   Ireis tudo accommodando.

HOMENS

8 Segui a pintura, e um dia
  De Porto-Alegre rival,
  À patria se deve honrar
  De um genio tão divinal.

9 Cultivai a poesia,
  Imitai Gonçalves Dias,
  Magalhães, e Porto-Alegre,
  Em soberbas poesias.

10 Ide á scena; deveis nella
  Ser um genio soberano,
  Tragico, sublime e terrivel,
  Rival do João Caetano.

11 A musica hoje abatida
  Nem sempre entre nós vereis,
  Té que de José Mauricio
  O renome eclipsareis.

12 Na tribuna nacional
  Sereis retrato fiel
  Do eloqüente deputado,
  O Paulista Gabriel!