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Pau Brasil/3

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POEMAS DA COLONIZAÇAO
A transação
 

O fazendeiro creara filhos
Escravos escravas
Nos terreiros de pitangas e jaboticabas
Mas um dia trocou
O ouro da carne preta e musculosa
As gabirobas e os coqueiros
Os monjolos e os bois
Por terras imaginarias
Onde nasceria a lavoura verde do café

 
Fazenda antiga
 

O Narciso marcineiro
Que sabia fazer moinhos e mesas
E mais o Casimiro da cosinha
Que aprendera no Rio
E o Ambrosio que atacou Seu Juca de faca
E suicidou-se
As desenove pretinhas gravidas

 
Negro fugido
 

O Jeronymo estava numa outra fazenda
Socando pilão na cosinha

Entraram
Grudaram nelle
O pilão tombou
Elle tropeçou
E cahiu
Montaram nelle

 
O recruta
 

O noivo da moça
Foi para a guerra
E prometteu se morresse
Vir escutar ella tocar piano
Mas ficou para sempre no Paraguay

 
Caso
 

A mulatinha morreu
E appareceu
Berrando no moinho
Socando pilão

 
O grammatico
 

Os negros discutiam
Que o cavallo sipantou

Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou

 
O medroso
 

A assombração apagou a candeia
Depois no escuro veiu com a mão
Pertinho delle
Ver se o coração ainda batia

 
Scena
 

O canivete voou
E o negro comprado na cadeia
Estatelou de costas
E bateu coa cabeça na pedra

 
O capoeira
 

— Qué apanhá sordado
— O que?
— Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada

Medo da Senhora
 

A escrava pegou a filhinha nascida
Nas costas
E se atirou no Parahyba
Para que a creança não fosse judiada

 
Levante
 

Contam que houve uma porção de enforcados
E as caveiras espetadas nos postes
Da fazenda deshabitada
Mivam de noite
No vento do matto

 
A roça
 

Os cem negros da fazenda
Comiam feijão e angú
Abobora chicorea e cambuquira
Pegavam uma roda de carro
Nos braços

 
Azorrague
 

— Chega! Peredôa!
Amarrados na escada

A chibata preparava os cortes
Para a salmoura

 
Relicario
 

No baile da Corte
Foi o Conde d’Eu quem disse
Pra Dona Bemvinda
Que farinha de Suruhy
Pinga de Paraty
Fumo de Baependy
E′ comê bebê pitá e cahi

 
Senhor feudal
 

Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com historia
Eu boto elle na cadeia

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1930 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.