Pensar é preciso/VIII/Antes de Darwin: Lineu, Lamarck, Mendel, Malthus
Antes de Darwin: Lineu, Lamarck, Mendel, Malthus
Carl Von Lineu (1707-1778) é considerado o pai da Botânica. A este médico e naturalista sueco devemos a primeira grande classificação de vegetais e animais em gêneros e espécies. Sem a sua sistemática e nomenclatura binominal dos seres vivos dificilmente Darwin poderia ter desenvolvido sua tese sobre a evolução das espécies. E isso porque não se pode trabalhar em profundidade sem antes explorar a superfície. Para estudar as origens das espécies precisava-se, primeiro, fazer o trabalho de classificação. O que Lineu fez. Sua obra mais importante foi publicada em 1735, com o título Sistema da natureza.
Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) já apresentara, em 1809, a tese da transmissão hereditária de caracteres adquiridos pela necessidade de adaptação ao meio ambiente. O naturalista francês foi o primeiro biólogo a propor uma “teoria evolutiva” para explicar a diferenciação e o progresso das espécies. Conhecido se tornou o exemplo da girafa: de tanto espichar o pescoço para alcançar as folhas das árvores, o animal acabou, após centenas de gerações, transferindo esta característica a seus filhotes, que começaram a nascer com o pescoço cumprido. A mesma teoria serviria para explicar a cor branca das palmas das mãos e dos pés dos descendentes da raça negra, por não receberem diretamente os raios do sol nessas partes do corpo, quando o primata humano ainda andava de quatro. Esta tese serve também para entender porque os povos europeus, originários da África, se tornaram brancos: após milhares de séculos sem receber raios solares escaldantes, a pele dos primitivos alemães e holandeses foi se embranquecendo, adaptando-se à neve do clima nórdico. E parece que a tese de Lamarck, após a contestação de vários biólogos, está agora sendo reabilitada por recentes pesquisas sobre o DNA que confirmam que características genéticas podem ser induzidas por mudanças ambientais e depois passadas de pai para filho.
Gregor Mendel (1822-1884), frade agostiniano da Áustria, contemporâneo do inglês Darwin, fez experiências genéticas semelhantes às do francês Lamarck, mas sobre cereais. Ele cruzou os caracteres de pés diferentes de ervilhas (sementes lisas de cor branca, sementes rugosas de cor verde etc.) e verificou que, após várias gerações, havia uma transmissão de características de uma espécie para outra. Ele é considerado o pai da Genética, pois suas deduções passaram a ser aceitas por estudiosos posteriores que as denominaram “Leis de Mendel”.
Thomas Robert Malthus (1766-1834), padre e economista inglês, autor do Ensaio sobre o princípio da população, sustentou a tese da desproporção entre a produção de alimentos (que aumenta em progressão aritmética) e a população mundial (que se multiplica em progressão geométrica). Foi a leitura desta obra de Malthus, que Darwin ia fazendo ao longo de sua viagem, que lhe deu o insight para a descoberta da lei da seleção natural. Quando chegou às ilhas Galápagos e percebeu a grande abundância da fauna e da flora, refletiu que devia haver um limite para a multiplicação das espécies, sob pena de faltar alimentos para todos. Observando que os peixes maiores comiam os menores e as plantas mais robustas tinham uma maior sobrevivência, o cientista inglês deduziu que a pressão ao limite de crescimento demográfico era dada, de uma forma natural, pelo princípio de seleção: as espécies mais fortes e melhores adaptadas ao meio ambiente persistiam, enquanto as mais fracas estavam destinadas ao perecimento. No campo humano, segundo a teoria de Malthus, a seleção se daria por guerras, catástrofes ou epidemias: quando a desproporção ultrapassasse o limite de tolerância, a própria natureza criaria organismos de defesa. E, como bom religioso, para reduzir a taxa de natalidade, Malthus aconselhou os homens, especialmente os mais pobres, a ajudar a natureza pela abstinência sexual. Mas, como não se pode ajudar a natureza indo contra a própria natureza, seu conselho não foi acatado. Homens e mulheres não pararam de transar e os habitantes da Terra chegaram, atualmente, a cerca de sete bilhões de habitantes, aumentando a pobreza mundial. Como o preceito da castidade continua não vingando, as igrejas apelaram para o assistencialismo, que melhora o nível da miséria sem, todavia, conseguir resolver o problema na sua raiz. Falarei sobre a necessidade do planejamento familiar e da paternidade responsável mais adiante, no contexto da construção de uma verdadeira cidadania.