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Pesquisando/II/Platão

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Platão (428-348) foi o mais famoso discípulo de Sócrates. De família aristocrática e de muita influência política na cidade de Atenas, começou a refletir sobre as falhas de um sistema de organização social que, apesar de democrático, tinha condenado a uma morte injusta o mais sábio dos homens. Em sua escola de cultura filosófica e política, chamada Academia por utilizar um ginásio de esportes, Platão foi expondo a doutrina de seu mestre, que imortalizou em seus Diálogos (Menon, Fédon, Banquete, Fedro, Crátilo, Eutidemo, Teeteto, Timeu, Sofista, República, entre outros), cujo personagem principal, na maioria dos escritos, é o próprio Sócrates.

Mas, aos poucos, foi superando o pensamento do mestre, apresentando um sistema filosófico mais completo, centrado na Teoria das Ideias. Ele parte do postulado de que o mundo da realidade sensível tem como causa explicativa a existência de uma realidade transcendental, constituída pelas “ideias”, essências puras e absolutas, independentes dos objetos materiais e do intelecto humano. Assim, cada classe de realidades do mundo exterior (árvores, animais, cadeiras, etc.) teria como paradigma uma ideia transcendental. Os objetos materiais seriam apenas fantásmatas, imagens, cópias imperfeitas e transitórias das ideias invisíveis e eternas.

Para tornar possível o conhecimento do mundo das ideias, Platão admitiu outra hipótese, a da reminiscência: a alma humana, imortal e preexistente ao nascimento do corpo, teria contemplado as ideias antes de juntar-se ao corpo, considerado a prisão do espírito. Conhecer, portanto, é recordar o que a alma já sabia antes da incorporação. Metaforicamente, Platão tenta explicar as várias fases do conhecimento humano por meio da alegoria da caverna: o homem, que sai das trevas de um antro subterrâneo e passa por diversos graus de sombra e luz até chegar a olhar diretamente para o Sol, representa o caminho do saber que vai do conhecimento do mundo físico até o universo das ideias. Da doxa, conhecimento da esfera sensível, da opinião comum do mundo das aparências por meio da diánoia, o pensamento reflexivo, chega-se à nôesis, a evidência intelectual, a contemplação das ideias puras e absolutas.

Do ponto de vista psicológico, a alegoria da caverna e a doutrina da reminiscência poderiam ser entendidas como uma tentativa de explicação metafísica para a constatação natural de que nada se aprende pela primeira vez. A expressão “saber é recordar” evidencia uma profunda verdade existencial, pois todo conhecimento duradouro e frutífero só se obtém pelo amadurecimento do espírito. A experiência que nos vem do mundo exterior é armazenada em nossa mente e, aos poucos e inconscientemente, é burilada pela atividade intelectual ininterrupta de nossa mente, até tornar-se sangue de nosso sangue, adquirindo feições peculiares, de acordo com o tipo de personalidade de cada ser humano. Assim, depois de um longo processo de interiorização, o conhecimento está pronto para vir à luz, para ser transmitido aos outros.

Aí entra o papel do pedagogo, do professor, do orientador: ajudar os discípulos, primeiro, a armazenar conhecimento e, em seguida, a encontrar os meios adequados para que os conceitos adquiridos possam ser exteriorizados de modo correto e inteligível. Portanto, o método dialógico de ensino e aprendizagem, idealizado e praticado por Sócrates, e aperfeiçoado por Platão, em seu dúplice aspecto da ironia e da maiêutica, não é uma peça de museu intelectual: pode ser utilizado ainda hoje e com bons resultados se adaptado a nossa realidade. Sua maior virtude é o estímulo para a formação do hábito da reflexão, insuflando a dúvida sobre a verdade de nosso saber com o fim de podermos superar os automatismos mentais, o primeiro passo para o conhecimento científico.