Refutação de todas as heresias/IV/XIV

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Aqueles, então, que supostamente podem profetizar por meio de cálculos e números[1], elementos e nomes, (que) constituem a origem de seus sistemas. Eles afirmam que há uma raiz de cada um dos números; no caso de milhares, tantas mônades quanto milhares: por exemplo, a raiz de seis mil é seis mônades; de sete mil, sete mônades; de oito mil, oito mônades, e assim sucessivamente, mantendo-se a (proporção). E no caso das centenas, assim como há muitas centenas, também há muitas mônades como raízes: por exemplo, de setecentos há sete centenas, a raiz é sete mônades; de seiscentos, seis centenas, seis mônades. E a mesma coisa vale para décadas[2]: para oitenta (a raiz é) oito mônades; e para sessenta, seis mônades; para quarenta, quatro mônades; para dez, uma mônade. E no caso das mônades, elas também têm raízes; por exemplo, de nove, nove; de oito, oito; de sete, sete. Desta forma, também, devemos proceder no caso dos elementos (das palavras), porque cada letra foi arranjada de acordo com um certo número: por exemplo, a letra "n" fica de acordo com cinquenta mônades; mas das cinquenta mônades, cinco é a raiz, e a raiz da letra "n" é (portanto) cinco. Admitindo de que alguns nomes tomamos certas raízes destes: por exemplo, (do) nome Agamemnon, há o "a", uma mônade; "g", três mônades; do outro "a", uma mônade; "m", quatro mônades; "e", cinco mônades; "m", quatro mônades; "n", cinco mônades; "o", oito mônades; "n", cinco mônades; colocando-as em série, fica 1-3-1-4-5-4-5-8-5; e e adicionando temos 36 mônades. Novamente, eles tomam as raízes destes, e eles tornam em três no caso do número trinta, mas na verdade seis no caso do número seis. O três e o seis, então, adicionados, constituem nove; mas a raiz de nove é nove: portanto o nome Agamemnon termina na raiz nove.

Vamos fazer o mesmo com outro nome - Ektor. O nome Ektor tem cinco letras - "e", "k", "t", "o" e "r". As raízes 5, 2, 3, 8, 1; e adicionando temos 19 mônades. Novamente, de dez, a raiz é um; e do nove, nove; adicionamos temos dez; a raiz de dez é uma môndade. O nome Ektor, portanto, quando computado, forma uma raiz, a saber, uma mônade. Entretanto, deveria ser mais fácil[3] conduzir o cálculo assim: divide-se as raízes determinadas das letras - como vimos no caso de Ektor, dezenove mônades - em nove, e tratar as restantes como raízes. Por exemplo, se eu dividir 19 por 9, o resto será 1, porque 9 vezes 2 são 18, e uma mônade restante: e se eu subtrair 18 de 19, há uma mônade restante; então a nome Ektor será uma mônade. Novamente, do nome Patroclus são raízes 8, 1, 3, 1, 7, 2, 3, 7, 2; adicionando temos 34 mônades. E temos resto 7 mônades: de 30, 3; e de 4, 4. Sete mônades, portanto, são as raízes do nome Patroclus.

Aqueles, então, que conduzem seus cálculos de acordo com a regra do número nove[4], tomam a nona parte do número agregado das raízes, e definem o que é deixado como a soma das raízes. Eles, por outro lado, (que conduzem os cálculos) de acordo com a regra do número sete, tomam a sétima (parte do número agregado das raízes); por exemplo, no caso do noem Patroclus, o agregado em questão são 34 mônades. Este dividido em sete partes, obtém-se quatro; (uma pessoa usando esse método) diz, de acordo com a regra do número sete, que seis mônades são as raízes do nome Patroclus. Se, entretanto ser 43, (seis) tomados sete vezes[5], ele diz, são 42, porque sete vezes seis são 42, e um é o resto. Uma mônade, portanto, é a raiz do número 43, de acordo com a regra do número sete. Mas alguém deve observar se o número considerado, quando dividido, não tem resto; por exemplo, se qualquer nome, após ter adicionado as raízes, eu, por exemplo, 36 mônades. Mas o número 36 divido por 9 dá exatamente 4 eneádes; porque 9 vezes 4 são 36, e não tem resto. Então é evidente que a raiz é 9. E de novo, dividindo o número 45, nós achamos 9[6] e nenhum resto - porque 9 vezes 5 são 45, e não tem resto; (pelo que) neste caso eles asseveram que raiz é 9. E em relação ao número sete, o caso é similar: se, por exemplo, dividirmos 28 por 7, não temos resto; porque 4 vezes 7 são 28, e não há resto; (daí) eles dizem que sete é a raiz. Mas quando alguém computa nomes e acha uma letra ocorrendo duas vezes, ele caucula uma vez; por exemplo, o nome Patroclus tem o "a"[7] duas vezes, e o "o" também: portanto eles calculam o "a" e o "o" uma vez. Com isso as raízes serão 8, 1, 3, 1, 7, 2, 3, 2, e adicionadas elas serão 27; e a raiz do nome será, de acordo com a regra do número nove, 9, mas de acordo com a regra do número sete, 6.

Da mesma forma, (o nome) Sarpedon, quando é submetido aos cálculo, produz como raiz, de acordo com a regra do número nove, duas mônades. Patroclus, entretanto, produz nove mônades; (por isso) Patroclus obtém a vitória. Porque quando um número é ímpar, e o outro par, prevalece o ímpar, se for maior. Mas, novamente, quando há um número par como o oito, e um número ímpar como cinco, o oito prevalece por ser maior. Se, entretanto, houverem dois números, por exemplo, ambos pares, ou ambos ímpares, o menor prevalece. Mas como (o nome) Sarpedon, de acordo com a regra do número nove, tem duas mônades, já que a letra "o" é omitida? Porque quando há em um nome a letra "o" e a letra "e", o "o" é omitido, usando apenas uma letra, porque eles dizem que ambas são equivalentes; e o mesmo não deve ser computado duas vezes, como já foi dito. Exemplos:

  • O (nome) Ájax tem quatro mônades; (mas o nome) Ektor, de acordo com a regra do número nove, tem uma mônade. E o quatro é par, enquanto que a mônade é impar. E neste caso, dizemos, o maior prevalece - Ájax é vitorioso.
  • Páris[8] e Menelau. Páris tem um nome próprio, mas, de acordo com a regra do número nove, tem quatro mônades; e Menelau, de acordo com esta mesma regra, tem 9 mônades. O nove, entretanto, conquista o quatro, porque foi declarado que quando um número é ímpar e o outro par, o maior prevalece; mas quando ambos são pares ou ímpares, o menor (prevalece).
  • Amicos e Pólux. Amicos, de acordo com a regra do número nove, tem duas mônades, e Pólux, sete: Pólux é vitorioso.
  • Ájax e Ulisses contendem pela armadura de Aquiles. Ajax, de acordo com a regra do número nove, tem quatro mônades; Ulisses, tem oito[9]. Há então, não anexado, e um nome próprio para Ulisses[10]? Porque ele foi vitorioso. De acordo com os npumeros indubtavelmente Ajax é vitorioso, mas a História mostra o nome de Ulisses como o conquistador.
  • Aquiles e Heitor. Aquiles, de acordo com a regra do número nove, tem quatro mônades; Heitor uma; Aquiles é vitorioso.
  • Aquiles e Asteropaio. Aquiles tem quatro mônades, Asteropaio três: Aquiles conquista.
  • Menelau e Eufórbio. Menelau tem nove mônades, Eufórbio oito: Menelau vence.

Alguns, entretando, de acordo com a regra do número sete, empregam apenas as vogais, mas há outros que distinguem as vogais, as semi-vogais e as consoantes; e tendo formado três ordens, eles tomam as raízes das vogais, semi-vogais e consoantes, e comparam com cada um à parte. Outros, entretanto, não empregam esses números costumazes, mas diferentes: por exemplos, há aqueles que não permitem que a letra "p" tenha como raiz 8 mônades, mas 5, e que a (letra) "x" tem 4 mônades; e em qualquer direção, eles não descobrem nada razoável. Quando, entretanto, eles discutem sobre a segunda (letra) de cada nome, eles tomam a primeira letra; e quando discutem sobre a terceira, eles tomam duas letras de cada nome, calculam o resto e comparam.

Notas[editar]

  1. O assunto do sistema numérico empregado pelos gnósticos e seus mistérios ocultos, é tratado por Kircher, Aedipi Aegypt.., tom. ii. parte i, de Cabala Hebraeorum; também em sua Arithmolog. no livro De Arithmomantiaa Gnosticor., cap. viii., de Cabala Pythagorea. Ver também Mersenne, Comment. on Genes.'
  2. N. T.: Ao que parece década era usada para se referir também a "dezena".
  3. Este tópico é examinado por Cornelius Agrippa no seu celebrado trabalho De vanitate et incertitudine Scientiarum, cap. xi., De Sorte Pythagoriea. Terêncio Mouro também temum trabalho em verso em Letters and Syllables and Metres, no qual alude a interpretações similares deduzíveis dos nomes Heitor e Patroclo.
  4. Isto é, a divisão por nove.
  5. Isto é, calculando de acordo com a divisão por sete.
  6. Nós devemos considerar 5 ao invés de 9, já que a divisão é por 9.
  7. Há alguma confusão no texto. Miller conjectura que a leitura deve ser: "Assim, por exemplo, o nome Patroclus tem a letra "o" ocorrendo duas vezes, portanto eles calculam uma vez". Schneidewin sugere que a forma deveria ser "Papatroclus".
  8. N.T.:Na tradução inglesa está "Alexandre", mas foi optado "Páris", por estar de acordo com a mitologia.
  9. Miller diz que houve um erro de cálculo aqui.
  10. Este é o mais próximo que a passagem pode oferecer, enquanto que podem haver conjecturas.